Entre os dias 3 e 5 de outubro, a cidade de Atalaia do Norte foi palco do Festival dos Povos Indígenas do Vale do Javari, um evento marcado pela celebração da diversidade cultural, dos saberes tradicionais e da valorização da identidade dos povos indígenas da região. Realizado pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA), o festival reuniu apresentações culturais, oficinas, rituais e mostras de arte e medicina tradicional, fortalecendo o diálogo entre culturas e promovendo o reconhecimento da herança ancestral do Vale do Javari. Um projeto que contou com o apoio da Rainforest Foundation Norway.
A cerimônia de abertura, realizada no dia 3 de outubro, marcou o lançamento de um projeto voltado à promoção da igualdade étnico-racial e valorização dos saberes ancestrais. O evento aconteceu na Tenda Celebrações do Javari na praça central da cidade, e contou com a presença de autoridades locais — como a primeira-dama do município e o secretário de Cultura —, além de lideranças indígenas, entre elas Bushe Matis, coordenador da UNIVAJA, e Thodá Kanamary, vice-coordenador da organização.

A Tenda dos Saberes do Javari abriu suas atividades com uma mostra de arte e artesanato indígena, apresentando ao público a riqueza estética e simbólica das expressões culturais da região. O momento foi seguido por uma apresentação do povo Kanamary, que encantou os presentes com cânticos e danças tradicionais. Durante a abertura, as falas das lideranças destacaram a importância de iniciativas que estimulem os jovens indígenas na preservação e continuidade de suas culturas.
Rituais, oficinas e apresentações marcam a programação cultural
Ao longo dos três dias, o festival ofereceu uma programação diversificada que proporcionou ao público uma imersão nas expressões culturais, cosmologias e práticas tradicionais dos povos do Vale do Javari.
Na primeira noite, a Tenda Celebrações foi palco dos rituais do povo Matis, com destaque para o Ritual do Mariwin, em que espíritos ancestrais são representados por máscaras e pinturas corporais de jenipapo. A cerimônia, marcada por humor e intensidade, expressa o valor da disciplina e da convivência coletiva. Em seguida, a Dança da Queixada foi apresentada pelos homens Matis, celebrando a fartura da caça e reforçando o equilíbrio ecológico e espiritual da atividade.

O segundo dia do evento concentrou as atividades na Tenda dos Saberes, com oficinas de tecelagem de pulseiras Matses, sessões de contação de histórias com anciãos e apresentações sobre o ofício das parteiras tradicionais e o casamento Matses, conduzidos por mestres e mestras de saberes.
Um dos momentos mais aguardados foi a demonstração do uso do Kambo Matses, prática tradicional de cura realizada por xamãs e curandeiros indígenas. O público pôde conhecer os fundamentos dessa medicina, utilizada há gerações como revigorante para a caça e, mais recentemente, também presente em contextos urbanos.
À noite, as atividades seguiram com exibições de cinema indígena, danças e cantos do povo Marubo, além de novas apresentações do Mariwin Matis e cantos tradicionais dos povos Matses e Kanamary, como o Canto do Pássaro Isko e o Canto das Mulheres Mariwin Vermelho.
Povos e saberes: ancestralidade em movimento
O Festival dos Povos Indígenas do Vale do Javari evidenciou a profundidade espiritual e simbólica dos povos participantes — Matis, Marubo, Matses e Kanamary —, cada qual compartilhando aspectos de sua cosmologia, medicina e expressões artísticas.

O festival encerrou-se reafirmando o compromisso coletivo da UNIVAJA e das lideranças indígenas com a preservação das culturas e o fortalecimento das identidades dos povos do Vale do Javari.
Mais do que um encontro cultural, o evento representou um espaço de reconhecimento, diálogo e valorização da diversidade indígena, destacando o papel das comunidades na construção de um futuro pautado pela memória, pela arte e pela força ancestral.