Category: Notícias dos Povos Indígenas

Missão reúne Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Governo Federal e sociedade civil no Vale do Javari

Visita demonstra avanços, mas organizações da sociedade civil cobram ações mais concretas do Estado na proteção dos defensores da região A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) esteve no estado do Amazonas, entre os dias 4 e 8 de agosto, para realizar escutas nas cidades de Manaus e Atalaia do Norte com autoridades públicas, defensores de direitos humanos, lideranças indígenas e comunicadores da região, no âmbito das atividades previstas no Plano de Ação da Medida Cautelar nº 449-22 (MC-449-22) na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Esta medida foi concedida para proteger aqueles que atuam na região, em razão dos riscos e ameaças intensificados após os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, no Vale do Javari, em junho de 2022. A visita foi coordenada pelo Conselho Deliberativo do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (CONDEL/PPDDH). Integraram a comitiva conselheiros do PPDDH e representantes da sociedade civil da ABRAJI, da ARTIGO 19, do Instituto Dom Philips, da Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), bem como representantes do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), incluindo o coordenador do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) e representantes do Ministério das Relações Exteriores (MRE), do Ministério da Justiça e da Segurança Pública (MJSP), da Secretaria Geral da Presidência da República (SG/PR) e da Secretaria de Comunicação Social (Secom/PR), além de membros do Ministério Público Federal (MPF). A Mesa de Trabalho, espaço formal de articulação entre o Estado, as organizações peticionárias e os beneficiários, tem como objetivo implementar o Plano de Ação aprovado e lançado em dezembro de 2023. No âmbito dessa instância, participam os órgãos responsáveis pela implementação das medidas cautelares concedidas em favor de Dom Phillips e Bruno Pereira, estendidas aos membros da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA). A presença de Beatriz Matos e Alessandra Sampaio, viúvas de Bruno e Dom, conferiu à missão uma dimensão simbólica e humana fundamental para reforçar a relevância desse trabalho conjunto. A Mesa é estruturada a partir de quatro núcleos de atuação — integridade e memória, segurança territorial, política de proteção a defensores de direitos humanos, ambientalistas e comunicadores, e acompanhamento das investigações — que orientam a formulação de políticas não repetição voltadas à garantia da vida e da integridade pessoal dos beneficiários e à prevenção de novas violações. Durante a visita à Atalaia do Norte, o CONDEL/PPDDH, realizou uma escuta qualificada dos beneficiários da MC-449-22 com o objetivo de assegurar a continuidade da implementação das medidas de proteção, alinhando as necessidades específicas de cada pessoa e do território. Na ocasião, ocorreu uma reunião da Mesa de Trabalho Conjunta, presidida pela secretária executiva da CIDH, Tania Reneaum Pansz, que teve como objetivo avaliar a implementação das medidas previstas no Plano de Ação, reforçar o compromisso das partes com a missão da Mesa e repactuar responsabilidades. Raquel da Cruz Lima, coordenadora do Centro de Referência Legal da ARTIGO 19 Brasil e América do Sul e uma das articuladoras da Mesa de Trabalho Conjunta, ressalta que “um dos principais pontos da missão foi averiguar a implementação dos planos de proteção individual dos beneficiários, uma demanda antiga do grupo”. No entanto, apesar de reconhecidos alguns avanços na implementação de parte das ações, foi destacado que ainda restam diversos objetivos e eixos centrais do plano de ação que não foram alcançados, como a atualização do plano de proteção da Terra Indígena Vale do Javari, de forma a englobar a garantia da atuação segura de comunicadores e as demandas das diversas etnias que vivem no território, a institucionalização de medidas de segurança para os beneficiários do PPDDH, a transparência sobre o andamento das investigações sobre os crimes contra Dom, Bruno e sobre as ameaças contra as lideranças do território, e o pedido de desculpas formal pelas mais altas autoridades do Estado. “Os trabalhos no Javari foram bem proveitosos para alinhar as expectativas do lado dos beneficiários perante a CIDH. No entanto, não vimos por parte do governo um compromisso mais concreto em manter os termos da cautelar, já concedida. Isto gera preocupação e desperta uma violação de não cumprimento das cautelares, o que pode ser levado para a Corte Interamericana, prejudicando muito o governo no cenário político internacional, sobretudo em matéria de direitos humanos fundamentais.”, diz Eliésio Marubo, procurador jurídico da UNIVAJA . Artur Romeu, diretor executivo da RSF, ressalta que “A falta de compromisso e coordenação do alto escalão do governo brasileiro colocam em risco a segurança de jornalistas que atuam em áreas de conflito ambiental, como a região onde Dom Phillips e Bruno Pereira foram assassinados”. E completa, “a proteção da imprensa deve ser prioridade, com ações ancoradas na realidade local.” Entre os compromissos firmados, destacou-se a realização de uma audiência pública no primeiro período de sessões da CIDH de 2026, como forma de dar visibilidade aos avanços, desafios e necessidades identificadas no acompanhamento das medidas cautelares. O último dia de atividades foi marcado por uma reunião de escuta com comunicadores da região, que compartilharam as condições em que exercem o jornalismo e outras formas de comunicação sobre o que ocorre na Amazônia, bem como as dificuldades e riscos associados à atuação a partir do território. Entre as atividades realizadas, destacou-se a tomada de subsídios organizada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom/PR), pelas organizações peticionárias — incluindo a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), a ARTIGO 19,  Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) — e pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), com o objetivo de identificar os principais desafios enfrentados pelos comunicadores na Amazônia em relação à proteção e à sustentabilidade de seu trabalho. A tomada de subsídios sobre a sustentabilidade do jornalismo ambiental e na Amazônia está aberta para coleta de insumos até o dia 7 de setembro em: https://www.gov.br/participamaisbrasil/tomada-de-subsidios-sobre-sustentabilidade-do-jornalismo-ambiental-e-sobre-a-amazonia   As organizações que acompanham o caso na CIDH são: ARTIGO 19 Brasil e América do Sul, Instituto Vladimir Herzog, Repórteres Sem

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Javari Vale da Arte participa de Intercâmbio com a Associação das Mulheres Indígenas da Amazônia- MAPANA

Entre os dias 24 e 26 de julho de 2025, as mulheres artesãs do Javari Vale da Arte participaram do Intercâmbio com a Associação das Mulheres Indígenas da Amazônia (MAPANA), – uma organização que atua na promoção e defesa dos direitos das mulheres indígenas na região amazônica, com foco no empoderamento social, político e econômico. O encontro, realizado na comunidade de Belém do Solimões, na Terra Indígena (TI) Eware, contou com a participação de cerca de 20 mulheres de etnias da região – Mayuruna, Kanamary, Matis, Marubo e Tikuna – que, durante estes três dias de evento, realizaram oficinas práticas sobre confecções de peças e estratégias de venda. As oficinas também trataram sobre a participação das artesãs em eventos, a criação de embalagens de produtos, estratégias de venda, – presencial e online. O intercâmbio também promoveu uma ampla e importante troca de saberes sobre técnicas, diálogos sobre identidade e ancestralidade. Fortalecer e proteger as Mulheres do Vale do Javari é parte importante do trabalho da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA).  O projeto do Javari Vale da Arte hoje conta com a Casa das Mulheres e da Juventude Indígena, onde é possível conhecer mais e, também comprar os artesanatos da terra indígena. A casa está localizada na Estrada do Boia (S/N) e fica aberta de segunda a sexta das 9h às 12 e das 14h às 17h. Atalaia do Norte 29 de julho de 202

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UNIVAJA realiza o 1° Encontro dos Monitores Etnoambientais da Equipe de Vigilância (EVU)

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA) realiza, entre os dias 21 de julho e 1º de agosto, o 1° Encontro dos Monitores Etnoambientais da Equipe de Vigilância da UNIVAJA (EVU) – uma grande reunião que será realizada no  Centro de Treinamento do Quixito. A EVU é um projeto pioneiro em termos de formação de equipes de vigilância em Terra Indígena no Brasil e que existe graças ao apoio e financiamento da Fundação Nia Tero. As equipes da EVU foram formadas aos poucos, passando por diversas etapas durante dois anos e meio até culminar neste momento, o do grande encontro das seis equipes de indígenas que hoje são responsáveis pelo cuidado e proteção das áreas onde vivem dentro da TIVJ. “Este é o último passo do projeto EVU 2.0, que foi apresentado em 2021. Conseguimos cumprir essa meta, realizar todos os treinamentos e, agora, vamos encerrar esse processo com o encontro. São mais de cem pessoas, muitos nem se conhecem. Vamos, também, unir pela primeira vez a todos junto com a turma de veteranos que coordenam a EVU”, explica Possuelo. Em 2024, esse projeto foi agraciado pelo Programa de Desenvolvimento da ONU (PNUD) com o Prêmio Equatorial junto a outras 11 iniciativas de todo o mundo selecionadas entre mais de 600 candidatos. “Esse é um projeto bastante reconhecido internacionalmente, mas pensado completamente para atender demandas de dentro da TI. Há indígenas que trabalham com a gente e nem documento têm ainda. Mas não temos preconceito, aceitamos a todos, participam homens e mulheres de todas as idades (maiores de idade) desde que tenham força de vontade e disposição para trabalhar em campo. Mais do que isso, nós fazemos questão de pagar os vigilantes. Respeitamos o fato de que, mais do que força de vontade, eles fazem um importante trabalho”, complementa o coordenador. A EVU é a única equipe de vigilância do país que paga um salário para seus integrantes. Nesse longo processo, a UNIVAJA desenvolveu projetos de embarcações específicas para trabalhar na TIVJ, as quais incluem uso de energia solar e internet. “Nada foi fácil, mandamos fazer barcos e tivemos que trazê-los pilotando durante sete dias desde Manaus. Todas as etapas tiveram seus desafios. O mais difícil foi gerir o pessoal. Nadamos um bom tempo contra a corrente, mas confiamos nos parentes e agora eles são os responsáveis pelo seu próprio território”, relembra Possuelo. Durante esses 10 dias no CT Quixito os monitores terão sua formação reforçada com oficinas e aulas sobre mecânica, protocolos de segurança, técnicas de sobrevivência, GPS, navegação, manutenção de embarcações (elétrica, hidráulica e fotovoltaica), marcenaria e relatórios e registros de notícia-crime. O Encontro também contará com as presenças de apoiadores como os Expedicionários da Saúde (EDS), do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e da World Wildlife Fund (WWF).  Também estará presente o jornalista Scott Wallace que há 23 anos acompanhou uma expedição no Vale do Javari em busca de sinais de prova da presença de indígenas isolados. Wallace escreveu uma matéria que foi capa da National Geographic e deu origem ao livro “Além da Conquista”. “Estou emocionado em voltar depois de tantos anos, aquela foi uma viagem que mudou a minha vida”, conta o jornalista. O CT Quixito é um antigo projeto idealizado pela UNIVAJA, – finalizado com apoio  Rainforest Foudantion Norway – e que começa a ser utilizado este mês em benefício de todos os povos da Terra Indígena.

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“Como Salvar a Amazônia”: Beto Marubo conta sobre sua participação no livro de Dom Phillips em congresso da Abraji, em São Paulo

“A morte de Bruno e Dom é o equivalente para a nossa geração do que foi a morte do Chico Mendes para a geração anterior”, assim falou sobre o caso o jornalista Rubens Valente, durante a palestra “Bastidores do livro de Dom Phillips: Como Salvar a Amazônia”, durante o 20º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) em São Paulo. Foi na companhia de Rubens e de Andrew Fishman, cofundador do site The Intercept, que o representante em Brasília da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA), Beto Marubo contou mais sobre a sua participação no livro “Como Salvar a Amazônia” e suas lembranças ao lado dos dois colegas e amigos que foram brutalmente assassinados em 2022. “Como Salvar a Amazônia”, livro que Dom Phillips estava escrevendo na época foi lançado no dia 05 de junho de 2025, na Inglaterra, nos Estados Unidos e no Brasil, marcando também a data dos três anos da tragédia. Uma obra póstuma que reúne relatos de quem vive na Amazônia, especialistas e pessoas que trabalham diretamente no território. Durante o evento, Beto Marubo compartilhou sua visão do trabalho de Dom, lembrando sua empatia, sensibilidade de escuta e como ele era considerado um profissional de confiança pelos povos indígenas. “Dom publicava exatamente o que a gente dizia”, comentou. Ele rememorou, inclusive, uma conversa sobre o início da escrita do livro: “Quando ele falou o título, achei pretensioso. Brinquei com ele: o que um gringo sabe sobre salvar a Amazônia?”. No entanto, essa era a intenção de Dom, causar questionamento, provocar o interesse em ler. O jornalista Andrew Fishman contou sobre o difícil processo de edição e construção do livro, que conta com 36 coautores. “Eram muitas pessoas, mas, para nossa sorte, Dom era alguém muito organizado, então não foi difícil reunir todo o material que ele já havia produzido. O desafio foi fazer isso depois do que aconteceu e conciliar com todos os colaboradores do livro.” Emocionado, Beto Marubo contou também sobre a sua convivência com o indigenista Bruno Pereira com quem trabalhou no Vale do Javari. “A gente era muito unido, Bruno era como um irmão para mim, ele pensou muito no futuro da terra indígena, Dom morreu porque queria ir lá ouvir os integrantes da Equipe de Vigilância que o Bruno criou”, lembrou. Beto Marubo também participou, em junho, – a convite da editora Bonnier Books e com apoio de amigos e parentes de Dom – de conversas sobre o livro em Londres, junto a Alessandra Sampaio, viúva de Dom. As palestras tiveram mediação do jornalista Tom Phillips, do The Guardian. No mesmo mês “Como Salvar a Amazônia” também foi publicado nos Estados Unidos pela Cheelsea Green Books e no Brasil pela Companhia das Letras. Todos os eventos de lançamento do livro de Dom Phillips tem sido marcados pela emoção e por muitas trocas com o público, muito interessado na história de Bruno e Dom e do Vale do Javari. “Em Londres tivemos que marcar uma segunda conversa inclusive, tamanho era o interesse. Aqui na Abraji também tivemos uma hora e meia só de perguntas. O mais importante é seguir ecoando as vozes de Bruno e Dom pelo mundo, para que não sejam esquecidos e sigam nos ajudando a proteger a floresta”, diz Beto Marubo. No encontro da Abraji o fotógrafo Avener Prado entregou para a UNIVAJA fotos de matérias que fez acompanhando histórias do Vale do Javari, inclusive a morte de Bruno e Dom. Estas imagens serão expostas na sede da UNIVAJA em Atalaia do Norte.   São Paulo 16 de julho de 2025

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UNIVAJA consolida parceria com o Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas

Plano Pena Justa realizará consulta direta às lideranças indígenas A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA) consolida parceria com o Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, através do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Prisional e Socioeducativo e o Comitê de Políticas Penais do Amazonas com o objetivo de conscientizar e debater abertamente com a população temas relativos ao tratamento dado aos presos pelo sistema judiciário. Para isso serão realizadas, nos dias 16 e 17 de julho, agendas relacionadas ao tema com a equipe do Plano Pena Justa. Este programa é uma iniciativa nacional para transformar o sistema prisional brasileiro, que busca enfrentar e impedir que sigam ocorrendo violações de direitos dentro das prisões. O programa é coordenado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), e visa melhorar as condições estruturais e os serviços oferecidos aos detentos, além de promover a reintegração social. Nesta busca por melhorias ao atendimento dos presos na Amazônia, serão realizadas duas audiências públicas e uma consulta direta às lideranças indígenas dos povos que compõe a UNIVAJA. As audiências são abertas ao público e serão realizadas nas Câmaras municipais de Atalaia do Norte e Tabatinga. Já a consulta direta aos povos será realizada na sede da UNIVAJA, em Atalaia do Norte. É muito importante a manifestação de todos para garantir um aprimoramento desta situação que é bastante grave, não só para os indígenas, mas para a população em geral. Agenda do Programa Pena Justa: ATALAIA DO NORTE Data: 16 de julho 10h – Audiência Pública na Câmara Municipal de Atalaia do Norte 13h30 às 15h30 – Consulta às lideranças na UNIVAJA TABATINGA 17 de julho 14h Audiência Pública na Câmara Municipal de Tabatinga   UNIVAJA Atalaia do Norte 16 de Julho de 2025

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UNIVAJA realiza audiência Pública sobre Educação na TIVJ e anuncia criação de departamento para tratar do tema

Alciney Rodrigues Dorlis, pedagogo, novo assessor técnico do projeto de educação a UNIVAJA. A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA) realizou, nos dias 17 e 18 de março, uma Audiência Pública sobre Educação na Terra Indígena do Vale do Javari, com participação das aldeias via internet e presencial na sede da instituição. Na mesma ocasião foi oficializada a contratação de Alciney Rodrigues Dorlis, como assessor técnico do projeto de educação a UNIVAJA. Durante os dois dias de audiência foi realizado um diagnóstico sobre como está a situação as escolas e do ensino nas aldeias e, também foram apresentadas propostas e ideias sobre como esse processo deve se dar no futuro, com a busca por um modelo etnoeducacional ideal para o território. Estudantes e professores discutiram sobre a educação na TIVJ, o histórico, a sua situação atual e o futuro pedagógico dos povos indígenas desta região do país. A repactuação do território, a etnoeducação, o êxodo do território de quem precisa sair na busca por formação e as dificuldades enfrentadas ao frequentar escolas e universidades em áreas urbanas distantes de sua terra natal foram os principais temas tratados durante os debates.       Para o pedagogo Alciney, agora assessor técnico da UNIVAJA é muito importante este debate para o início dos trabalhos do departamento. “Começamos a trabalhar no processo de formulação de um ato da criação da coordenação de educação da UNIVAJA e num primeiro momento vamos trabalhar na discussão do Projeto Político Pedagógico, pois já existe uma educação escolar indígena, mas precisamos definir calendário, disciplinas, matriz curricular, notas ou conceitos que sejam específicos, respeitando a cultura de cada povo”, observa. O departamento de educação está sendo criado com apoio da Fundação Nia Tero. Participaram do evento a coordenadora da Fundação Nacional do Povos Indígenas do Vale do Javari (FUNAI), Nely Duarte, o coordenador de Frentes de Proteção Etnoambiental (FPE) da Funai, Ilter Rodrigues, coordenadora Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Atalaia do Norte, Neymia Oliveira Mello, a diretora do Instituto de Natureza e Cultura da Universidade Federal da Amazônia (UFAM), Marinete Lourenço Mota, a equipe do Centro de Trabalho Indigenista (CTI) junto a sua coordenadora Maria Elisa Ladeira, e a assessora indigenista Luisa Suriani do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), além de professores das aldeias e lideranças do Vale do Javari. Também se manifestaram, com participação online, o procurador jurídico da UNIVAJA Eliesio Marubo e os estudantes da Rede de Estudantes Indígenas do Vale do Javari.

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Proteção dos Povos Indígenas é tema de audiência no TCU.

O Tribunal de Contas da União (TCU) em conjunto com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) promoveu uma audiência para debater a proteção dos territórios indígenas. A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA)  esteve presente em uma audiência promovida pelo TCU em conjunto com a FUNAI nesta terça-feira (15) em Brasília. O debate foi voltado para a articulação institucional na proteção dos territórios indígenas e teve como objetivo identificar oportunidades para o aperfeiçoamento da atuação estatal nas políticas públicas indigenistas e na proteção dos territórios, bem como subsidiar ações de controle externo do Tribunal. Beto Marubo, representante da UNIVAJA, ao abordar o tema destacou a importância de resgatar a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), o fortalecimento da FUNAI  e a valorização do papel dos Povos Indígenas na Proteção Territorial. A crise humanitária vivenciada pelos Yanomami e o avanço do garimpo ilegal em áreas indígenas também entraram em pauta. Segundo Vital do Rêgo, vice-presidente do TCU, está em curso uma auditoria em parceria com a Controladoria Geral da União (CGU) para avaliar as causas de vulnerabilidade socioambiental que tem afetado os povos indígenas, em especial ao povo Yanomami. Também participaram do evento representantes de outras instituições federais que atuam  na proteção das terras indígenas, como o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Controladoria Geral da União, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA) e a Polícia Federal.  

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‘Fui obrigado a entrar em terra indígena com um missionário’, diz servidor da Funai

Biólogo relata os conflitos com a ministra Damares e denuncia a ação de evangélicos para apagar tradições ancestrais; investida de religiosos contra isolados se intensificou com nomeações no governo Bolsonaro MERLINO, Tatiana. ‘Fui obrigado a entrar em terra indígena com um missionário’, diz servidor da Funai. Bocado. Disponível em: Link. Acesso feito em: 25/11/2020. A terra indígena onde vivem os Suruwahá, no sul do Amazonas, é um dos alvo das investidas de missionários evangélicos (Foto: Daniel Cangussu-FPE Madeira Purus/Funai) Localizar, proteger e monitorar povos indígenas isolados e de recente contato no sul do Amazonas era a principal tarefa do biólogo Daniel Cangussu, que entre 2010 e 2019 foi coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental (FPE) Madeira Purus da Funai. Nos dois últimos anos em que ficou cargo, porém, ele passou a receber pressões para ir na contramão da sua função e organizar expedições de missionários evangélicos a um território indígena onde não deveriam entrar. Cangussu trabalhava junto ao povo de recente contato Suruwahá e em ações de localização dos isolados do Hi-Merimã e de todos os demais isolados não identificados da região. Embora avalie que a Funai tivesse uma vigilância eficiente, o monitoramento do território Hi-Merimã sempre foi um desafio, porque a população é grande e se movimenta por uma área extensa. “E no entorno há muitos missionários que querem evangelizar os isolados”, conta. “Nós tínhamos um controle grande da saúde dos funcionários quando atuávamos nesses territórios. Mas essa não é uma preocupação dos missionários”, critica. “Por isso, quando me perguntam quais as principais pressões territoriais para os isolados, respondo que não são os madeireiros, os garimpeiros e os povos do entorno. São os missionáios.” Em 2018, por exemplo, ele expulsou o missionário Steve Campbell, ligado a igreja americana Greene Baptist, que havia entrado ilegalmente na terra Hi-Merimã. “Ele se sentiu confiante com a nova conjuntura [eleição do presidente Jair Bolsonaro] para fazer essa expedição. “Foram instaurados um processo de acompanhamento do Ministério Público Federal e um processo administrativo interno da Funai.”   Resistência e imposição O servidor da Funai conta, no entanto, que o momento de maior tensão da sua vida profissional ocorreu um mês após Jair Bolsonaro vencer as eleições presidenciais, em outubro de 2018. Cangussu foi designado pelo presidente da Funai a organizar uma visita à terra indígena dos Suruwahá. O objetivo era que a comunidade recebesse Muwaji Suruwahá, indígena que havia sido retirada de lá pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) anos antes com o intuito de levar a filha para Brasília, onde teria tratamento de saúde. Muwaji e sua filha nunca mais voltaram. A incursão, no entanto, não seria feita só por ela – já convertida em evangélica e integrante da Jovens com uma Missão (Jocum) – mas também por seus filhos e na companhia de um missionário da Jocum, Darci Azevedo Cunha. Anos antes, Azevedo havia morado na mesma terra indígena, antes de ser retirado por decisão do Ministério Público. A solicitação para a visita havia sido feita pelo então senador e pastor evangélico Magno Malta, que à época tinha como assessora a hoje ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves. “Fui obrigado pelo presidente da Funai, por meio do assédio de Magno e Damares, a entrar na terra indígena com um missionário”, conta o biólogo. A ministra é fundadora da ONG Atini, investigada pelo Ministério Público Federal por tráfico e sequestro de crianças. Cangussu conta que mostrou resistência à ideia. “Disse que estava havia quase 10 anos fazendo o contrário [impedir a entrada de missionários]. E o que me disseram foi que, se eu não quisesse, iriam providenciar alguém para fazer.” A visita durou uma semana e foi “tensa”, ele diz. Por falar a língua dos Suruwahá, o missionário tinha conversas isoladamente com alguns deles. “Foi ruim ter que usar a logística da Funai em prol dos missionários. Foi uma espécie de prenúncio do que iria acontecer depois”, observa, referindo-se à nomeação de Ricardo Lopes Dias, ex-missionário evangélico, para coordenador na Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) da Funai.   Casa de conversão em Brasília Muwaji vive hoje em uma casa em Brasília com dois filhos, onde também moram outros indígenas retirados pela Sesai de outras terras e que nunca mais retornaram aos seus lares de origem. “Nessa casa moram indígenas formados para serem pastores”, explica o servidor. “A estratégia deles é: se não conseguem entrar nas terras com os missionários, entram com indígenas que se converteram, já que não se pode impedir a entrada de indígenas nas aldeias.” A reportagem entrou em contato com Funai, Sesai, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e com o ex-senador Magno Malta. Nem o pastor nem os órgãos governamentais se pronunciaram. As ações dos missionários entre os indígenas isolados e povos de recente contato se intensificaram com nomeações no governo Bolsonaro (Foto: Daniel Cangussu-FPE Madeira Purus/Funai) Cangussu afirma que teve conflitos com Damares e missionários durante nove anos, por conta das investidas em áreas de índios isolados ou de recente contato. Tanto que pouco após a expedição, no começo de 2019, ele pediu para ser transferido. Hoje, ele é é chefe da Coordenação Técnica Local da FUNAI em Teófilo Otoni, em Minas Gerais. “Meu presidente [da Funai] é um delegado da Polícia Federal que nomeou um missionário para assumir a Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato. Nosso chefe é nosso principal rival”, define. “É muito triste, coloca a gente na lama em todos os sentidos. Se meia dúzia de índios for evangelizada, para eles valeu o preço, caso muitos morram.” O biólogo faz questão de ressaltar que esses não são casos isolados. Nos seus nove anos na Frente de Proteção Etnoambiental, ele presenciou e teve conhecimento de outras ações que colocavam em risco povos indígenas e tradições ancestrais. Caso de um importante ritual de passagem das indígenas Banawá, que vivem no sul do Amazonas — um momento importante para as jovens, de orgulho, quando deixam de ser meninas para virarem mulheres.

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Manobra da bancada evangélica legaliza ação de missionários em territórios indígenas

Para liderança dos povos isolados, “atuação dos missionários é horrível tanto quanto o coronavírus” CARVALHO, Igor. Manobra da bancada evangélica legaliza ação de missionários em territórios indígenas. Brasil de Fato Disponível em: Link. Acesso em: 22/05/2020. “No contexto dessa pandemia, tornou-se uma anomalia que irá oferecer os mesmos riscos dos quais se pretendia evitar nessas populações”, afirma Marubo – Foto: Agência de Notícias do Acre / Creative Commons O que era para ser um Projeto de Lei (PL) com medidas de amparo aos indígenas no combate ao coronavírus dentro das aldeias, se tornou um marco histórico e negativo para os indígenas brasileiros. Na noite da última quinta-feira (22), uma manobra da bancada evangélica na Câmara dos Deputados fez com que a permanência de missionários em territórios de índios isolados fosse legalizada. Justiça anula nomeação de líder religioso à chefia de indígenas isolados da Funai O PL 1142, aprovado pelos deputados na sessão de quinta-feira, determina que o governo deve fornecer água potável, testes rápidos para detectar contaminação por coronavírus, material de higiene pessoal, além de garantir uma reserva de leitos para que indígenas contaminados pela covid-19 sejam tratados. Para aprovar o projeto, no entanto, a bancada evangélica, através do deputado federal Wellington Roberto (PL-PB), inseriu um artigo no texto que autoriza a permanência nos territórios de missionários religiosos. Na última quarta-feira (20), o texto que estava no sistema da Câmara dos Deputados ainda previa prisão de cinco anos para qualquer pessoa que acessasse os territórios indígenas sem autorização da Fundação Nacional do Índio (Funai). Horas antes da votação, Roberto fez a proposta de emenda substitutiva global, que alterou a proposta. A aprovação da matéria com a permissão aos missionários revoltou as lideranças indígenas. Angela Amanakwa Kaxuyana, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazonia Brasileira (COIAB) protestou e classificou como “tragédia” a medida. “Nós não ficamos surpresos, afinal esse governo tem trabalhado para continuar violando nossos direitos, legalizando o que é ilegal. A aprovação do Projeto de Lei foi um golpe e um crime contra a vida dos povos indígenas, quando permite a presença dos missionários. Deve estar na lei que está vetada a presença de qualquer pessoa nos territórios de índios isolados”, explicou Kaxuyana. Beto Marubo, representante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, o maior território de índios isolados do mundo, lamentou. “Abre-se uma oportunidade nefasta a essas populações indígenas. Se as ideias originais eram de criar uma política pública que atendesse as demandas que mitigassem a proteção dos isolados e recém contatados, no contexto dessa pandemia, tornou-se uma anomalia que irá oferecer os mesmos riscos dos quais se pretendia evitar nessas populações”, afirma. Ainda de acordo com Marubo, “a atuação dos missionários é horrível tanto quanto o coronavírus. O que nos deixa bastante tristes é que negociaram em gabinetes, literalmente, a vida dos parentes dos quais dependem de ações responsáveis e comprometidas com os preceitos que garantem a sua proteção física, cultural e territorial. Não se negocia direitos, e o pior, com quem tem nos trazido a desgraça nas últimas décadas. Esperamos que essa anomalia seja barrada pelas instâncias competentes e iremos acompanhar política e juridicamente esse assunto.” Por fim, Kaxuyana afirmou que os indígenas não estão “vendendo e nem trocando a vida dos povos isolados. É um dever do Estado proteger os povos indígenas e quilombolas, mas não podemos permitir que nossas vidas sejam uma troca pelo plano de proteção contra o coronavírus.” Edição: Leandro Melito

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