Day: abril 16, 2020

Nota à sociedade sobre a frágil situação dos povos indígenas do Vale do Javari diante da pandemia do Covid-19

União dos Povos Indígenas do Vale do Javari “Unidos pela defesa e autonomia dos povos Indígenas do Vale do Javari”   A Coordenação da Organização indígena UNIVAJA, em nome dos povos Marubo, Mayoruna (Matsés), Matis, Kanamary, Kulina Pano, Korubo e Tsohom-Djapà vem a público informar aos nossos parceiros, à imprensa e demais interessados pela causa indígena sobre a grande preocupação dos povos indígenas do Vale do Javari com a aproximação da pandemia do coronavírus em nosso território. Até a presente data não há nenhum diagnóstico de indígena do Vale do Javari contaminado por covid-19 e muito menos casos suspeitos, porém já há casos comprovados nas cidades de Benjamin Constant – AM, Tabatinga – AM, São Paulo de Olivença – AM e em Cruzeiro do Sul – AC. As sedes dessas cidades estão localizadas relativamente próximas à Terra indígena e para onde grande parte dos indígenas se deslocam, seja para resolver questões de atendimento social ou questões de saúde, mas principalmente para terem acesso a uma política de educação, algo muito precário em nossas aldeias. Há um grande contingente de jovens da nossa região espalhado por essas cidades, muitos dos quais não retornaram para suas aldeias devido às medidas sanitárias adotadas pelas autoridades.  Grande parte dos indígenas habitantes do Vale do Javari, sofrem, anualmente, com as chamadas “doenças prevalentes”, tais como, a malária, a filariose, a hepatite, que são enfermidades as quais causam grande debilidade física aos pacientes e consequentemente deterioram a imunidade desses organismos, circunstâncias essas que têm demonstrado ser um dos principais fatores de risco aos doentes da covid-19. Além disso, a Terra indígena Vale do Javari abriga a maior população de índios isolados do planeta, que são indígenas os quais não detém imunidade para as doenças mais comuns das sociedades externas a deles, inclusive algumas com as quais compartilham o território do Vale do Javari. Ou seja, o que afeta nossas comunidades consequentemente irá afetar os grupos que vivem em isolamento voluntário. Nesse sentido, caso chegue essa doença (covid-19) em nossas aldeias, o cenário pode ser o de genocídio. Apesar de todas essas possibilidades de horizonte sombrio para os povos indígenas do Vale do Javari, o que temos visto, na prática, são tomadas de providências tímidas por parte da FUNAI, da SESAI e dos demais poderes públicos locais. O que vemos é algo resultante mais da iniciativa dos servidores desses órgãos do que uma política institucional coordenada pelos órgãos competentes em nível municipal, estadual e federal. Algo totalmente incoerente com as adversidades que podem atingir nossa região e que já demonstraram serem fatais quando não há nenhum planejamento sério. Para se ter uma ideia, o órgão de saúde Indígena (SESAI) não dispõe de embarcações para fazerem remoções, numa região acessada só por via aérea ou fluvial. A FUNAI local não dispõe de recursos orçamentários que atendam às demandas atuais, muito menos as de um cenário adverso. Todos esses fatores nos deixam preocupados, quando se leva em consideração as nossas vulnerabilidades específicas e lerdeza descabida do poder público. O Vale do Javari talvez seja uma das poucas terras indígenas do país onde teria todas circunstâncias favoráveis para proteger as aldeias dessa pandemia causada pelo coronavírus, pois as entradas e saídas são feitas pelos principais rios, onde em sua maioria tem uma Base da FUNAI, ou seja, o trânsito de pessoas poderia ser totalmente interrompido, com uma atuação efetiva do Exército, Polícia Federal e Força Nacional nas Bases de Vigilância que já existem, mas, equipando-as e dando condições para que pudessem atuar de forma efetiva. Contudo, corno relato neste informe, o que se percebe que ainda estão esperando que o pior aconteça. Diante do exposto e ainda nesse contexto de “calamidade pública”, reivindicamos com a máxima urgência: Que Ministro da Justiça e o Presidente da FUNAI providenciem a atuação conjunta da Força Nacional, da FUNAI e do Exército Brasileiro, nas Bases da FUNAI nos rios Nu, Curuça, de forma permanente, na fiscalização e operações de retirada de todos os invasores da Terra Indígena;  Que o Presidente da FUNAI descentralize, com a máxima urgência, recursos financeiros para CO.P. emerge.. para atender os mais de 100 estudantes indígenas que estão na cidade de Atalaia do Norte, impedidos de seguir mira suas aldeias e passando graves necessidades;  Que o Governador do Amazonas, conjuntamente com a FUNAI local, dê suporte financeiro para ajudar os estudantes do ensino médio que se encontram no município; Que a SESAI nacional providencie, com urgência, aquisição de quatro embarcações rápidas (ambulânchas), EPIS de saúde e testes rápidos para os servidores da saúde e os indígenas do Vale do Javari. Atalaia do Norte – AM, 16 de abril de 2020. A Coordenação do UNIVAJA

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Maior reserva de índios isolados do mundo pede ajuda contra coronavírus

Em nota, povos do Vale do Javari denunciam descaso do governo federal: “Horizonte sombrio” CARVALHO, Igor. Maior reserva de indígenas isolados do mundo pede ajuda contra o coronavírus. Brasil de Fato. Disponível em: Link. Acessado em 16/04/2020. Povos indígenas exigem “planejamento sério” do governo federal contra o coronavírus – Funai A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) divulgou uma nota, nesta quinta-feira (16), prevendo um “horizonte sombrio” aos povos que habitam a Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas, maior reserva de índios isolados do mundo, caso o governo federal não avance com medidas que garantam a proteção da comunidade contra o contágio por coronavírus. No documento, chamado de “Nota à sociedade sobre a frágil situação dos povos indígenas do Vale do Javari diante da pandemia do Covid-19”, fazem críticas a órgãos federais que deveriam representá-los. “Apesar de todas essas possibilidades de um horizonte sombrio para os povos indígenas do Vale do Javari, o que temos visto, na prática, são tomadas de providências tímidas por parte da FUNAI (Fundação Nacional do Índio), da SESAI (Secretaria Especial de Saúde Indígena) e dos demais poderes públicos locais”, criticam em nota, que cobra organização do governo federal. :: Primeiro indígena aldeado a morrer por covid-19 é de área próxima a garimpo ilegal :: “O que vemos é algo resultante mais da iniciativa dos servidores desses órgãos do que uma política institucional coordenada pelos órgãos competentes em nível municipal, estadual e federal. Algo totalmente incoerente com as adversidades que podem atingir nossa região e que já demonstraram serem fatais quando não há nenhum planejamento sério”, explica. De acordo com indígenas que vivem na região, uma enfermeira do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Solimões, município na região onde está a Terra Indígena Vale do Javari, foi testada e está confirmada com coronavírus. Porém, ela não teve contato com os isolados. :: Com seis casos suspeitos, indígenas do Ceará fecham aldeias e pedem solidariedade :: Na carta, os indígenas afirmam que as “condições são favoráveis” para controlar a chegada do vírus nas aldeias, pois todas as entradas da Terra Indígena são feita pelos rios, onde “em sua maioria tem uma base da Funai”. Ou seja, dessa forma, poderia haver um controle das pessoas que acessam a área. Por receio de contaminação dos indígenas, a Univaja fez quatro exigências ao governo federal. A primeira é a presença da Força Nacional, Funai e Exército nos rios que servem de entrada à Terra Indígena, para garantir a “retirada de todos os invasores”. Também que a Funai envie recursos para cem estudantes indígenas que estão cumprindo quarentena no município de Atalaia do Norte [vizinho à reserva], onde passam “graves necessidades”, e que o governo estadual garanta o suporte financeiro aos estudantes. Além da demanda que a Sesai providencie “quatro embarcações rápidas (ambulânchas), EPIS de saúde e testes rápidos para os servidores da saúde e os indígenas do Vale do Javari.” Edição: Vivian Fernandes

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