Proteção dos Povos Isolados:
Parentes Livres e Autônomos
Nós, da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA), assumimos a responsabilidade de proteger e representar também nossos parentes isolados, que são uma parte vital da diversidade do nosso território.
Esses povos, chamados pelo Estado de “isolados”, preferimos chamá-los de “parentes em isolamento voluntário”, ou simplesmente “Povo Livre” e “Autônomo”. Eles são nossos parentes que optaram pela autonomia e pela liberdade, longe do contato constante com as instituições estatais e mesmo de outros povos indígenas.

Cada povo do Vale do Javari os nomeia de acordo com sua própria cultura e língua: os Marubo os chamam de Yora Rawema ou Moka Nawa (“gente arredia”), os Kanamari os chamam de Warikama-dyapa (“povo capivara”), para os Mayuruna eles são Isacmaid (“aqueles não vistos”), e para os Matis, são conhecidos como Matses Wëtsi (“outro povo”).
Esses termos demonstram o respeito e o reconhecimento à autonomia desses povos, que decidiram não estabelecer relações permanentes com seu entorno. É uma escolha de liberdade diante das ameaças e violências que sempre vieram do mundo exterior, especialmente dos nawa (não indígenas).


Desde 1987, a política oficial do Estado brasileiro é a do “nenhum contato”, isto é, o Estado não deve promover contatos com esses povos, exceto em situações extremas em que suas vidas estejam ameaçadas. Nós, da UNIVAJA, seguimos e apoiamos essa diretriz, orientando todos os povos indígenas do Vale do Javari a não estabelecerem contato com os parentes isolados, para evitar tragédias, como mortes causadas pela contração de doenças ou conflitos.
Compreendemos que, devido ao aumento das estiagens secas, invasões e mudanças climáticas drásticas, muitos desses povos isolados têm buscado contato em momentos de extrema necessidade. No entanto, é essencial garantir que nenhum contato seja feito, de forma a preservar sua segurança, principalmente sanitária.
O Vale do Javari é a região com a maior concentração de povos isolados do mundo, abrigando pelo menos 16 referências registradas pela FUNAI. Isso significa que, na extensão de nossa Terra Indígena, existem pelo menos 16 grupos distintos vivendo em isolamento. A nossa luta também é a luta deles. Defendemos sua autonomia, suas escolhas e suas vidas, que estão em constante ameaça, seja pelas invasões de suas terras ou pela vulnerabilidade imunológica severa às doenças trazidas pelos não-indígenas.
Presumimos que as línguas faladas por esses povos pertencem às famílias linguísticas Pano e Katukina, como os demais povos contatados do Vale do Javari, evidenciando a diversidade cultural presente em nosso território. Nossa missão é garantir que esses parentes continuem vivendo como escolheram, livres de qualquer intervenção externa, com suas culturas, suas casas, a floresta conservada e suas tradições preservadas.
A proteção territorial dos povos isolados é uma prioridade, e nós estamos comprometidos em manter a vigilância e o monitoramento das áreas em que habitam, assegurando que seus territórios permaneçam invioláveis.
Estamos ao lado dos nossos parentes isolados, protegendo sua existência, respeitando sua escolha de liberdade e reforçando o compromisso de não estabelecer contatos desnecessários, sempre respeitando seus direitos e sua vulnerabilidade única. Nossa existência e resistência no Vale do Javari também passa pela proteção dos povos isolados, que são parte essencial da história e da vida em nosso território.


