Foi com muita alegria e cantos tradicionais que terminou, na quinta-feira (27/02), o Encontro de Lideranças e a I Assembleia Extraordinária da União dos Povos do Vale do Javari (UNIVAJA) na Aldeia Txexe Wassa. O evento que durou três dias foi um espaço aberto para o debate e manifestações de líderes dos povos que habitam a segunda maior terra indígena do país e contou com algumas participações como dos Kulina Madiha e do povo de recente contato: os Korubo. Outro fato importante foi a presença da autoridade máxima da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) ao Encontro.
Os Korubo, inclusive, além de participarem em grande número do encontro, sendo um total de 15 pessoas, abriram o evento com uma dança e canto tradicional. Estiveram presentes também os representantes dos povos Matis, Mayuruna, Marubo, Kanamari e Matses, por meio de seus líderes e presidentes de associações que compõe a UNIVAJA, – AMAS, OGM, AKAVAJA, ASDEC, OAMI, AIMA E AIKUVAJA. Os Kulina Madiha, que chegaram no último dia do encontro narraram as sérias dificuldades que sofrem em sua área e pediram união e ajuda para enfrentar invasores e outros problemas pelos quais passam em suas aldeias. A única ausência no evento foi a do povo de recente contato Tsohom-dyapa.

Nos dois primeiros dias a coordenação executiva da Univaja fez um panorama sobre a captação de recursos, o andamento e a estrutura de projetos em andamento da entidade. Beto Marubo explicou como funciona a representação em Brasília trazendo que o trabalho teve início com o antigo coordenador da Univaja, Paulo, e que é com este trabalho e ação da representação em Brasília que é possível encontrar novos parceiros e garantir a captação de recursos, além de manter conversas com os órgãos governamentais responsáveis pelas políticas indigenistas para o Vale do Javari. A fala da coordenação executiva também contou com o procurador jurídico da Univaja, Eliesio Marubo, explicando sobre as ações pelas quais ele é responsável, como processos, contratos e assessoria jurídica aos parentes.
Também foram realizadas apresentações das atividades e resultados do ano de 2024 como o fortalecimento das associações de base, cursos de capacitação em parceria com o Sebrae, editais de financiamento; Projeto Vale da Arte e suas ações de fortalecimento do artesanato indígena da TIVJ e potencialização política das mulheres indígenas; projeto de comunicação em implantação, com estruturação de equipe de comunicadores na TIVJ; projeto da Equipe de Vigilância da UNIVAJA (EVU). Também foi apresentado pela gestora financeira o processo de prestação de contas apresentando os dois eixos principais de atuação da Univaja: proteção territorial e fortalecimento institucional, evidenciando que foi uma escolha das lideranças esses dois eixos de atuação. As ações apresentadas em sua maioria foram executadas em 2024 e algumas serão 2025, incluindo os gastos das ações ocorridas em 2024.

No segundo dia o Encontro contou com a presença da Presidenta da FUNAI, Joenia Wapichana e equipe que foram recebidos calorosamente pelas mulheres indígenas. Foi o momento das lideranças falarem diretamente à maior autoridade do país do órgão governamental apresentando solicitações e tirando dúvidas sobre as ações da FUNAI. Também foi assinado por Joenia, junto com a UNIVAJA, o Protocolo de Intenções para diversas ações na TIVJ, tais como: fortalecimento das ações políticas; sustentabilidade, economia da biodiversidade e autonomia dos povos do Vale do Javari; gestão e proteção territorial; fortalecimento das associações indígenas; políticas de saúde e bem-estar; pesquisas interculturais e outros temas relacionados a proteção da Amazônia e bem viver indígena. O objetivo é que a assinatura do Acordo de Cooperação Técnica ocorra em abril/25, durante o Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília.

Questões relacionadas a educação e como lidar com a necessidade de sair da terra indígena para que seja possível completar os estudos foi um dos temas mais comentados durantes as plenárias, inclusive por Jorge Marubo, um dos representantes da Rede de Estudantes Indígenas do Vale do Javari (Reivaja). A importância de dar apoio a estes estudantes de forma mais concreta foi reconhecida pelos dirigentes da UNIVAJA e, inclusive, no dia 26 de fevereiro, o coordenador da UNIVAJA informou que foi assinado Acordo de Doação com a Nia Tero Foundation para iniciar projeto de Educação Indígena para a TIVJ ainda este ano.
No terceiro dia foi realizada a I Assembleia Extraordinária da UNIVAJA com a leitura e votação sobre as alterações realizadas para reforma do estatuto. Estavam presentes 10 delegados dos Mayurunas, dos Kanamari, dos Korubos, dos Matis, dos Marubo e 03 dos Kulina-Pano. Foram debatidos cada um dos artigos alterados, efetuados os ajustes e, ao final, foi aprovado o novo Estatuto Social da UNIVAJA, sendo que esta atividade terá ata específica, a qual deverá ser registrada e divulgada conforme as definições legais.
As Associações de Base AMAS, OGM e o Coletivo de Mulheres MAI também realizaram apresentação de suas atividades, assim como os parceiros como CTI, FAS e Frente de Proteção – FUNAI. Victor Txai, indigenista da FUNAI que já atuou na região, também apresentou sua pesquisa de mestrado a respeito da exploração de petróleo na década de 70 e 80 na TIVJ. O convite vem ao encontro da elaboração de uma carta sobre a posição contrária da TIVJ sobre exploração de petróleo na região e na foz do Amazonas.

Ao final do evento, Bushe Matis convidou Darcy Marubo, Waki Mayuruna/Caiçuma e Clovis Marubo, que iniciaram o movimento indígena no Vale do Javari para realizarem suas falas e reverenciou a entrega que eles realizaram com a demarcação da TIVJ, ocorrida em 02/05/2001, homologada em 2011. E, conforme votação ficou já ficou determinado que o próximo encontro será realizado no Centro de Treinamento do Quixito que está em obras e deve ficar pronto até a metade do ano de 2024.
